terça-feira, 7 de julho de 2015

CAFÉ E CHOCOLATE: CULTURAS AGRÍCOLAS TROPICAIS INTIMAMENTE LIGADAS AO CAPITALISMO INDUSTRIAL

Por José Romero Araújo Cardoso[1] e Marcela Ferreira Lopes[2]

Duas culturas agrícolas tropicais estiveram intrinsecamente ligadas ao capitalismo industrial, principalmente quando do auge da segunda fase desse importante momento do modo de produção capitalista.
          
O café foi responsável pela criteriosa redefinição do escravismo colonial devido imprescindir da mão-de-obra escrava. Enquanto as colônias americanas haviam triunfado em humanismo, mas também tendo formado importante mercado consumidor de produtos importados, fomentado interesse sobretudo da Inglaterra, o Brasil recrudescia os laços do escravismo colonial a ponto de somente em 1888 ter todos os escravos libertos.
             
O cacau, introduzido no sul da Bahia, dependente de sombra da mata nativa e água dos córregos, não obstante ser nativo da América Central e de pequena porção setentrional da parte meridional do continente americano, adaptou-se muito bem às condições de solo e clima baianos.
          
O café que durante muito tempo figurou como principal produto na pauta das exportações brasileiras destinava-se principalmente ao proletariado, pois o regime de trabalho com mais de 12 horas diárias seria impossível de ser cumprido se não houvesse um estimulante que garantisse que os trabalhadores estivessem firmes nas fábricas.
          
A importância do café no cenário socioeconômico nacional era tão grade no século XIX que foi para o Planalto Paulista que forma enviados boa parte dos malês do recôncavo baiano que escapou da chacina imperial em 1836. Negros islamizados, chegaram ostentando cultura, declamando Castro Alves, despertando a ira dos ricos fazendeiros do oeste paulista. A punição inclemente e desumana definiu em essência o próprio poder representado pelo café.
          
A mais-valia não poderia ser extraída na forma analisada por Marx se não tivesse havido a interferência direta das potencialidades da rubiácea no organismo dos trabalhadores quando daquela fase do capitalismo industrial que se dinamizava na Europa, nos Estados Unidos e em algumas frações do globo, como o Japão, que apostou firme na industrialização a ponto de se tornar potência no século XX.
         
O cacaueiro que servia para fazer uma bebida amarga apreciada pela nobreza nativa da América Central, antes da chegada de Colombo, deu ênfase ao surgimento de uma poderosa elite dominante no sul da Bahia, cujos feitos, atos e disputas foram imortalizados por Jorge Amado em diversos romances.
          
O chocolate produzido a partir da amêndoa torrada e fermentada do cacau passou a ser bastante apreciada pela burguesia industrial europeia. Casa de chocolate começaram a surgir em todas as partes do velho mundo devido ao gosto pela bebida, pois a sofisticação no preparo foi se desenvolvendo constantemente, a ponto de nos dias de hoje haver uma profusão de ofertas referente ao chocolate.
          
A Bahia figurou muito tempo como grande produtor de cacau, mas com o advento da vassoura de bruxa nos anos noventa do século passado os prejuízos forma grandes. Nos dias de hoje os países da África ocidental despontam como maiores produtores.
          
Quando da quebra da Bolsa de Valores de Nova York em setembro de 1929, ambas culturas agrícolas para exportação foram duramente penalizadas, pois as safras records registradas não tiveram como ser absorvidas pelo capitalismo industrial com o qual estavam intrinsecamente vinculadas.

[1] José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UERN).

[2] Marcela Ferreira Lopes. Geógrafa-UFCG/CFP. Especialista em Educação de Jovens e Adultos com ênfase em Economia Solidária-UFCG/CCJS. Graduanda em Pedagogia-UFCG/CFP. Membro do grupo de pesquisa (FORPECS) na mesma instituição.

Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do "Cangaço" José Romero de Araújo Cardoso

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