Por Rangel Alves
da Costa*
Está se
aproximando a festa mais tradicional de Nossa Senhora da Conceição de Poço
Redondo e região, a sempre esperada comemoração de agosto em louvor à Padroeira
Nossa Senhora da Conceição. Original e tradicionalmente comemorada entre os
dias 13 a 15 de agosto, em quaisquer dias da semana que caíssem, agora foi
dividida. No fim de semana anterior (08 a 10) haverá a festança musical; e nos
dias 13 a 15 as comemorações religiosas.
Absolutamente
nada contra tal divisão, até mesmo porque se evita que donos de veículos
ignorantes abram as malas com sons potentes e ensurdecedores bem ao lado da
igreja e nos horários dos ofícios religiosos. E já aconteceu de ninguém
conseguir sequer se reunir no templo ou arredores por causa da violência
estrondosa nos carros perfilhados pela praça. Donos de veículos verdadeiramente
desrespeitosos e estúpidos.
Entretanto, há
uma crítica que não pode deixar de ser feita com relação à programação musical.
Nada em desfavor dos gostos dos jovens que admiram o que bem entenderem, indo
do arrocha à breguice eletrônica, do falso sertanejo a essas bandas de meia
pataca que tanto fazem sucesso por lá. Há de considerar, porém, que a população
do município não é formada apenas por jovens de gostos musicais duvidosos.
Felizmente ainda há uma parcela da população - e talvez a maior - que gosta e
admira a música própria da terra.
E falar em
música própria da terra invariavelmente se diz acerca do forró, do forró
pé-de-serra, do chinelado no salão, do ralabucho comendo no centro, até o dia
amanhecer. E falar em forró implica em citar o sanfoneiro, forrozeiro,
zabumbeiro, cantador, sertanejo dançador, matuto apreciador, piso de barro
batido, sala de reboco, salão, cachaça e cerveja, suor escorrendo e molhando a
roupa nova de festa. E tais figuras, personagens, gostos e situações,
parecem nem existir mais nas distâncias sertanejas.
Não se deve
esquecer que todo e qualquer outro ritmo ou estilo musical que chegue ao sertão
sem ser forró, repente ou violado caipira, deverá ser visto como alheio às
tradições e costumes do povo nordestino, principalmente o sertanejo. Engana-se
quem achar que o forró é coisa de sertanejo velho e ultrapassado e que sua
dança é coisa de matuto. A sua autenticidade é tamanha que os centros de
tradições nordestinas vivem completamente cheios no sul do país. E por que o
desprezo da própria juventude sertaneja pelo seu ritmo tão fascinante e encantador?
Sei que os
modismos musicais e a proliferação dessas bandalheiras de estilos e músicas
sempre iguais possuem o dom de atrair pessoas descompromissadas com a
valorização das coisas próprias, ainda que reconhecidamente belas. Assim
acontece porque os jovens procuram no volúvel o preenchimento de suas
instabilidades comportamentais. E muitas vezes acabam, por vergonha de serem
autenticamente sertanejos, preferindo se requebrar diante de músicas vulgares,
apelativas ou de duplo sentido.
Mas não é
somente culpa do jovem, vez que também a falta de opção o faz admirador de
qualquer coisa imprestável. E a verdade é que não se tem mais música sertaneja
no próprio sertão. Em tempos passados, nada mais que cinco salões dispunham de
forró e forrozeiros da melhor qualidade. As festanças eram abrilhantadas por
sanfoneiros do quilate de Zé Aleixo, Dudu, Zé Goiti, Agenor da Barra, Dida e
tantos outros.
Não se deve
esquecer que ao lado dos forrós havia também bailes românticos e com conjuntos
e bandas musicais realmente decentes. Pelo salão do mercado já passaram, por
exemplo, Los Guaranis, Tuaregs, Embalo D, Dissonantes, R Som 7, Embalo Z, e
tantos outros. E em espaço aberto também já foram contratados artistas famosos,
de renome no cenário musical. Houve até uma época com oito dias de festa e a
cada dia uma atração diferente.
Mais
recentemente, Miltinho - e que saudosa memória! - chamou para si a
responsabilidade de manter a tradição forrozeira em Nossa Senhora da Conceição
de Poço Redondo. Aqueles que não gostassem das bandalheiras na Praça de Eventos
corriam para o salão de seu bar e lá a festança estava garantida. Mas o nosso
amigo, o grande guardião forrozeiro, já não está entre nós. E agora?
A verdade é
que após a privatização da Praça de Eventos grande parte da população
poço-redondense ficou sem opções para comemorar sua padroeira. Os empresários
se negam veementemente a contratar outra coisa que não seja a mesmice de
sempre, mudando somente o nome. Os forrós rarearam-se de vez, apenas um ou
outro pelos escondidos, e o que se tem mesmo é a triste visão de uma juventude
se delirando com aquilo que nada tem a ver com sua história ou com o seu mundo.
Por isso,
“Chora sanfoninha, chora, chora, chora sanfoninha meu amor...”.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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